terça-feira, 8 de julho de 2025

Dica e análise literária


🌹 O Nome da Rosa – Umberto Eco (1980)

🔍 UM LABIRINTO DE LIVROS, PODER E SILÊNCIO

O Nome da Rosa não é apenas um romance histórico ou um mistério medieval: é uma catedral de ideias construída sobre os alicerces da linguagem, do medo ao conhecimento e da violência religiosa. Eco, semiólogo e medievalista, tece uma narrativa onde cada assassinato na abadia é um símbolo do conflito entre razão e dogma — e onde o próprio manuscrito (perdido, queimado, reconstruído) reflete a fragilidade da verdade.

📜 NÚCLEO DA ANÁLISE: OS QUATRO PILARES DA OBRA

1. A Biblioteca como Metáfora do Poder (e do Caos)

A abadia beneditina guarda uma biblioteca em forma de labirinto, onde livros proibidos são escondidos como pecados. Eco retrata:

- O controle do saber: Os monges acreditam que algumas verdades devem morrer para salvar a fé. O cego Jorge, antagonista, é a encarnação desse terror ao questionamento ("Risos são heresia").

- Paralelos históricos: A biblioteca lembra a Alexandria (conhecimento destruído) e a Inquisição (censura como salvação).

2. Aristóteles vs. Apocalipse: A Guerra das Narrativas

O mistério gira em torno do segundo livro da Poética, de Aristóteles (sobre comédia), que Jorge considera perigoso porque:

- A comédia relativiza o sagrado: Ela mostra que "nada é eterno, nem mesmo Deus" (nas palavras de Eco).

- O riso como revolução: Se as pessoas rirem do poder, o poder perde sua aura divina.

3. Adso de Melk: A Inocência que Registra a Queda

O narrador, Adso, é um noviço que assiste à investigação de Guilherme de Baskerville (referência a Sherlock Holmes). Sua jornada é:

- A perda da inocência: Cada cadáver o confronta com a corrupção da Igreja e a natureza humana.

- O paradoxo do conhecimento: No fim, Adso escreve sua memória em latim — a mesma língua que excluía o povo do saber.

4. O Manuscrito queimado: Eco e a Pós-Modernidade

O livro termina com a frase "Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus" ("A rosa primordial permanece apenas no nome"). Eco sugere:

- A verdade é fragmentária: O manuscrito original se perdeu; só temos versões.

- A linguagem como ruína: Nomes (como "rosa") são cascas vazias sem a essência do que representam.

💡 LINK COM A HISTÓRIA E O PRESENTE

- Fake news medievais: Os monges manipulam textos como hoje se manipulam algoritmos.

- Fundamentalismos: Jorge antecede os talibãs que destroem estátuas de Buda ou queimam livros LGBTQ+.

Ler Eco é entender que toda perseguição começa com uma palavra: 'heresia', 'fake news', 'degenerado'. A biblioteca de O Nome da Rosa ardeu, mas suas chamas iluminam até hoje os totalitarismos que temem o riso e o debate. E você: já sentiu o peso de um livro proibido?

Se você fosse um monge medieval, qual livro salvaria do fogo?

#UmbertoEco #LiteraturaEFilosofia #LivrosProibidos #Medievalismo

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