eu já fiz de tudo nesta vida maldita / já passei muitas noites sem dormir tendo como companhia apenas amargas recordações, e esta não poderia ser diferente...
acordo em meio ao espocar dos fogos, acendo a luz da cabeceira, que apenas suaviza a densa escuridão do meu quarto e, conseqüentemente, da minha vida, acendo um cigarro, levanto e vou para a cozinha preparar alguma coisa para comer, pois sei que a noite será longa e solitária (mais uma vez) /
enquanto como, penso no possível motivo que aqueles idiotas teriam para fazer tamanho alvoroço, soltando aqueles malditos fogos numa hora daquelas (três da manhã, se não me engano) / às vezes me surpreendo com a capacidade de alienação que o homem possui, logo ele que crê ser o mais inteligente, mesmo usando apenas uns míseros 10% de sua capacidade mental / capacidade essa que, queira ou não, não o diferencia muito dos outros seres inanimados /
cansado de tanta solidão, pego meus cigarros, ponho o sobretudo e o chapéu e saio para esfriar a cabeça / a rua está vazia (os idiotas já se foram com seus malditos fogos) e o silêncio, que não pára de gritar, me deixa atordoado /
caminhando sem rumo vou dar numa rua que há muito tempo não passava / uma rua que, infelizmente, não me trazia boas recordações...
quinze anos já se foram desde aquele dia fatídico / quinze anos que procuro uma resposta para tão inesperado acontecimento e nada encontro senão recordações, tristes recordações que vagam por minha mente tal como se fossem sonhos de um alienado / quinze anos que não consigo ter uma noite tranqüila de sono / quinze anos que penso em você, nos seus carinhos, no seu jeito de criança que ganha um brinquedo novo e abandona, sem dó nem rancor, os que já não servem mais / e foi isso que infelizmente aconteceu / nós nos amávamos como se não houvesse amanhã e você simplesmente me deixou como se fora um brinquedo velho /
até hoje penso no motivo que a levou a tão brusca decisão / seria meu excesso de zelo, de amor, de confiança? seria minha paixão incontrolável? seria minha preocupação exacerbada? infelizmente agora não tenho mais como saber, tudo porque há quinze anos você se foi sem me dizer sequer uma palavra de adeus ou de consolo /
mas voltando àquela rua... estava eu caminhando, como já disse, sem rumo, quando me deparei com o cenário de minha morte em vida / ao perceber onde estava, fechei os olhos, sentei num banco próximo e, com o coração em pedaços, chorei / chorei como há muito não fazia / chorei como uma criança desamparada, chorei como um velho alienado e só, que já viveu tudo o que podia e que, de tão velho, só o que consegue lembrar é da solidão /
permaneci ali por mais umas duas horas, então me levantei e voltei para casa / voltei para nunca mais sair, para nunca mais chorar, para nunca mais viver...
Pois é, Oscar, lendo o seu texto agora, fiquei aqui pensando: a gente tanto pode errar por falta quanto por excesso. A falta acaba por deteriorar aquilo que restou, que, com o tempo, vira nada. Já o excesso, acaba por deteriorar por sermos abundantemente dedicados e, de rpente, não é exatamente aquilo qe o outro quer de nós.
ResponderExcluirTudo o que vem de graça e em excesso não tem graça.
Bom, chega de filosofar em torno da sua história. Mas gosto de divagar quando vale a pena.
Beijos, bom final de semana.
Bem... considerando só a parte dos fogos... se foi há quinze anos, era o primeiro título do Corinthians na Copa do Brasil... e se foi ontem, era a classificação do Avaí para a final do primeiro turno do Catarinense... hehe.
ResponderExcluirMuito lindo este texto... mas também muito triste. Pensando bem... o que seria da vida se não fossem as recordações? Viver é ter alegria incontida, e saber tirar de tudo que nos acontece algo de bom, guardar as pedras do caminho faz parte, mais tarde com elas construiremos um castelo...
ResponderExcluirBjs CLÔ
Pois então... O que seria da vida sem as recordações?
ResponderExcluirSomos feitos de memórias, fatos e exemplos.
Fatos esses que nos permitem melhorar quando percebemos que erramos, muitas vezes rir dos bons momentos que passamos ou porque não nos entristecer...
São as recordações que nos fazem sentir o quão vivos estamos e o quanto ainda temos pela frente...
As memórias expressam os sentimentos!
Beijos