domingo, 6 de setembro de 2009

COISAS DE MULHER

Ela passou o primeiro dia empacotando todos os seus pertences em caixas, engradados e malas. No segundo dia, ela chamou os homens da transportadora que levaram a mudança. No terceiro dia, ela se sentou pela última vez na bela mesa da sala de jantar, à luz de velas, pôs uma música suave e se deliciou com uns camarões, um pote de caviar e uma garrafa de Chardonnay. Quando terminou, foi a cada um dos aposentos e colocou alguns pedaços de casca de camarão, besuntados com caviar, nas cavidades dos varões das cortinas. Depois, ela limpou a cozinha e se foi. Mais tarde, seu ex-marido chegou com a nova namorada. Tudo estava muito bem arrumado, cheirando a limpeza. Depois, pouco a pouco, a casa começou a feder.
Eles tentaram de tudo: limparam, lavaram e arejaram a casa. Todas as aberturas de ventilação foram verificadas à procura de possíveis ratos mortos e os tapetes foram limpos com vapor. Desodorantes de ar e ambiente foram pendurados em todos os lugares. A empresa de combate a insetos foi chamada para colocar gás em todos os encanamentos, durante alguns dias, durante os quais tiverem de sair da casa, e, no fim, ainda tiveram de pagar para substituir o caríssimo carpete de lã. Nada funcionou.
As pessoas pararam de visitá-los. Os funcionários das empresas de consertos se recusavam a trabalhar na casa. A empregada se demitiu. Finalmente, eles não suportavam mais o fedor e decidiram se mudar.
Um mês depois, apesar de terem reduzido o valor da casa em 50%, eles não conseguiram um comprador para a casa fedorenta. A notícia se espalhava e nem mesmo corretores de imóveis locais retornavam as ligações. Finalmente, eles tiveram de fazer um grande empréstimo do banco para comprar uma casa nova.
A ex-esposa ligou para o marido e perguntou como andavam as coisas. Ele contou a ela o martírio da casa podre. Ela escutou pacientemente e disse que sentia muitas saudades da casa antiga e que estaria disposta a reduzir a parte que lhe caberia do acordo de separação dos bens em troca da casa.
Sabendo que a ex-mulher não tinha idéia de como estava o fedor, ele concordou com um preço que era cerca de 1/10 do que valeria a casa. Mas só se ela assinasse os papéis naquele dia mesmo. Ela concordou e, em menos de uma hora, os advogados dele entregavam os documentos a ela.
Uma semana depois, o homem e sua namorada assistiam, com um sorriso malicioso, os homens da mudança empacotando tudo para levar para a sua nova casa...incluindo os varões das cortinas.

2 comentários:

  1. Se toda mulher tivesse esta iniciativa coitados dos homens que se separassem.
    Adorei !!!!!!!!!!!!!!!!!
    Karen

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  2. Hahahahahaha, muito bom, Oscar!
    Fantástica a sua crônica!
    Adorei a ideia, a maneira como foi conduzida a história. Até lembrei das histórias que o Dogman inventava e que tinham esse suspense, essa coisa de não se saber o que vai acontecer.
    Coisas de mulher, é? Sei! Vou lembrar dessa sua história se eu precisar, rs.
    Parabéns pela inspiração!
    Ficou maravilhosa!

    Beijos e bom feriado!

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