sexta-feira, 21 de junho de 2024

déjà vu

         três e treze da madrugada e nada do sono vir / já tomei meu rivotril, já passei horas lendo, já levantei para comer, voltei a deitar, tomei uma neosaldina para evitar uma possível dor de cabeça, que possa vir a surgir e continuo aqui/

mas não poderia ser diferente, afinal, velhos hábitos nunca morrem / a madrugada, a escuridão e o silêncio me motivam/

no entanto, o que me trouxe aqui não foi minha constante insônia física, mas uma inércia mental que insiste em apoderar-se de mim há tanto tempo, que já perdi a conta / quem me conhece sabe a que me refiro / muito tempo se passou, e os sentimentos são os mesmos: dúvida, incompreensão, medo, solidão, tristeza e saudade/

o que eu acabei de escrever, já foi dito em outra situação, em outra história (uma que falava de uma cruz e um caldeirão), mas como nossa existência, ao meu ver, é como um ciclo, o que vivemos não passa de um constante sentimento de déjà vu / nesse caso em especial, um déjà vu que não me traz nada de bom/

certa vez alguém me disse que, para sermos felizes, precisamos primeiro amar a nós mesmos e que, se assim o fizermos, a felicidade externa chegará naturalmente / mas como alguém pode amar a si próprio se, nos últimos tempos, só vem experimentando sofrimento e desilusão? sinceramente, não tenho vocação para ghandi, madre teresa, lady di, buda ou padre fábio de melo / não é de minha natureza ser esse tipo de pessoa extremamente positiva, quando o mundo ao meu redor conspira contra / acho que deve ser por isso que não jogo na loteria, porque não tenho essa característica de, tipo, “agora é minha vez, vou ganhar”, “cara, hoje sonhei com um sapo, então quer dizer que vou encontrar a sorte se for a um restaurante asiático e comer pernas de rã fritas” / não!

a vida nos reserva muitas coisas, mas quando essas “muitas coisas” não saem do jeito que imaginávamos, começamos a questionar se, realmente, existe este tal de destino / está muito mais para provação do que destino / e por quantas provações teremos que passar para alcançar o êxtase? e será que existe esse tal de êxtase? acho que não, pelo menos não no meu caso, afinal, nas poucas vezes que imaginei tê-lo alcançado, vem a vida, me passa uma rasteira e caio de cara no chão / já caí tantas vezes, que aprendi a andar olhando para baixo para, pelo menos, na próxima queda, tentar desviar das pedras mais afiadas, que poderiam causar danos maiores/

de acordo com o positivismo de comte, o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro / e o que isso tem a ver com o que estou dissertando aqui? na verdade, sob o meu ponto de vista, se não conhecemos nem a nós mesmos, como podemos chegar a conhecer o mundo? se, cientificamente falando, eu não sei mais quem sou, devido a diversos fatores externos, nunca chegarei a saber quem sou verdadeiramente / e se não sei mais quem sou verdadeiramente, qual o motivo de minha existência?

tudo isso é muito complexo, mas uma coisa é extremamente simples: se não consigo sentir-me amado por outrem, como posso sentir-me amado por mim mesmo? eu preciso de estímulos externos, para que o meu eu interior perceba que vale a pena seguir adiante / ah, e como quero poder seguir adiante/

mas voltando ao início do meu raciocínio, estou aqui tentando explicar o porquê de tanto negativismo (dúvida, incompreensão, medo, solidão, tristeza e saudade)/

por mais difícil que seja, tais sentimentos estão enraizados no meu ser de tal forma, que já não sei se posso cortá-los pela raiz, por mais que eu tente/

acredito que por medo de passar por tudo novamente, meu coração virou uma pedra de gelo e, por mais que eu tente aquecê-la, o derretimento é tão lento, que torna-se imperceptível e, praticamente, inexistente/

quero sim, e muito, voltar a experimentar aquela alegria que sentia antes de que meu mundo desabasse sobre minha cabeça / quero sim, e muito, voltar a amar e sentir-me amado, mas o fantasma do fracasso me assombra dia e noite, e essa sensação é uma das com as quais eu não consigo lidar/

frustração, essa é a palavra que paira sobre minha existência e enquanto eu não puder eliminá-la da minha vida, do meu dicionário, jamais voltarei a ser feliz, ah, e como eu gostaria de voltar a ser feliz/

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