três e treze da madrugada e nada do sono vir / já tomei meu rivotril, já passei horas lendo, já levantei para comer, voltei a deitar, tomei uma neosaldina para evitar uma possível dor de cabeça, que possa vir a surgir e continuo aqui/
mas não poderia ser diferente, afinal, velhos
hábitos nunca morrem / a madrugada, a escuridão e o silêncio me motivam/
no entanto, o que me trouxe aqui não foi minha
constante insônia física, mas uma inércia mental que insiste em apoderar-se de
mim há tanto tempo, que já perdi a conta / quem me conhece sabe a que me refiro
/ muito tempo se passou, e os sentimentos são os mesmos: dúvida, incompreensão,
medo, solidão, tristeza e saudade/
o que eu acabei de escrever, já foi dito em
outra situação, em outra história (uma que falava de uma cruz e um caldeirão),
mas como nossa existência, ao meu ver, é como um ciclo, o que vivemos não passa
de um constante sentimento de déjà vu
/ nesse caso em especial, um déjà vu
que não me traz nada de bom/
certa vez alguém me disse que, para sermos
felizes, precisamos primeiro amar a nós mesmos e que, se assim o fizermos, a
felicidade externa chegará naturalmente / mas como alguém pode amar a si
próprio se, nos últimos tempos, só vem experimentando sofrimento e desilusão? sinceramente,
não tenho vocação para ghandi, madre teresa, lady di, buda ou padre fábio de melo
/ não é de minha natureza ser esse tipo de pessoa extremamente positiva, quando
o mundo ao meu redor conspira contra / acho que deve ser por isso que não jogo
na loteria, porque não tenho essa característica de, tipo, “agora é minha vez,
vou ganhar”, “cara, hoje sonhei com um sapo, então quer dizer que vou encontrar
a sorte se for a um restaurante asiático e comer pernas de rã fritas” / não!
a vida nos reserva muitas coisas, mas quando
essas “muitas coisas” não saem do jeito que imaginávamos, começamos a
questionar se, realmente, existe este tal de destino / está muito mais para provação do que destino / e por
quantas provações teremos que passar para alcançar o êxtase? e será que existe
esse tal de êxtase? acho que não, pelo menos não no meu caso, afinal, nas
poucas vezes que imaginei tê-lo alcançado, vem a vida, me passa uma rasteira e
caio de cara no chão / já caí tantas vezes, que aprendi a andar olhando para
baixo para, pelo menos, na próxima queda, tentar desviar das pedras mais
afiadas, que poderiam causar danos maiores/
de acordo com o positivismo de comte, o conhecimento científico é a única forma de
conhecimento verdadeiro / e o que isso tem a ver com o que estou dissertando
aqui? na verdade, sob o meu ponto de vista, se não conhecemos nem a nós mesmos,
como podemos chegar a conhecer o mundo? se, cientificamente falando, eu não sei
mais quem sou, devido a diversos fatores externos, nunca chegarei a saber quem
sou verdadeiramente / e se não sei mais quem sou verdadeiramente, qual o motivo
de minha existência?
tudo isso é muito complexo,
mas uma coisa é extremamente simples: se não consigo sentir-me amado por
outrem, como posso sentir-me amado por mim mesmo? eu preciso de estímulos
externos, para que o meu eu interior
perceba que vale a pena seguir adiante / ah, e como quero poder seguir adiante/
mas voltando ao início do meu
raciocínio, estou aqui tentando explicar o porquê de tanto negativismo (dúvida, incompreensão, medo, solidão, tristeza
e saudade)/
por mais difícil que seja,
tais sentimentos estão enraizados no meu ser de tal forma, que já não sei se
posso cortá-los pela raiz, por mais que eu tente/
acredito que por medo de
passar por tudo novamente, meu coração virou uma pedra de gelo e, por mais que
eu tente aquecê-la, o derretimento é tão lento, que torna-se imperceptível e,
praticamente, inexistente/
quero sim, e muito, voltar a
experimentar aquela alegria que sentia antes de que meu mundo desabasse sobre
minha cabeça / quero sim, e muito, voltar a amar e sentir-me amado, mas o
fantasma do fracasso me assombra dia e noite, e essa sensação é uma das com as
quais eu não consigo lidar/
frustração, essa é a palavra
que paira sobre minha existência e enquanto eu não puder eliminá-la da minha
vida, do meu dicionário, jamais voltarei a ser feliz, ah, e como eu gostaria de
voltar a ser feliz/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Has recibido un comentario